Deixem-me ir! Deixem-me chorar as
lágrimas que quero. Deixem-me manchar o vestido que me aperta o peito.
Deixem-me soluçar, deixem-me sonhar com ilusões que em tempos foram verdades. Deixem-me
ir, correr até as pernas começarem a falhar e os pés deixarem de pisar a terra.
Deixem-me cair, magoar-me, sangrar lentamente, em dores terríficas, que me vão
cortando a razão, em dores agonizantes, que me consumem a sanidade. Deixem-me
sangrar, esvaziar-me. Deixem que o nada me absorva e preencha as lacunas do meu
corpo. Deixem-me ir, por favor. Deixem o rio correr para a foz e beijar o mar.
Deixem a neve moldar a paisagem e derreter no horizonte quando o sol se
levanta. Deixem que a lua brilhe no céu e as estrelas salpiquem a escuridão.
Deixem que as ondas enrolem e batam na areia quente, dourada, que os meus pés
um dia calcaram. Deixem que o fogo arda, queime, consuma os corpos, consuma a
vida morta que vai sucumbindo. Deixem-me ir com o vento, voar com ele, cantar
com ele, dançar nele. Sentir o cabelo voar com a brisa e o corpo arrefecer ao
fim do dia. Deixem-me ir. Deixem, deixem a vida, deixem a vida correr lá no
longe que os olhos não veem, que se perde na linha ténue do horizonte
desenhado. Deixem-me…
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
domingo, 27 de janeiro de 2013
A Fotografia
A dor fria da solidão aperta.
Contraia-lhe o peito numa explosão de pensamentos vazios, mortos. As paredes à
volta apenas erguiam quadros que alguém pintou há muito e esqueceu, e o pó vai
cobrindo as linhas de um rosto de alguém que por lá passou. E ela, sentada num
dos cantos da sala, ia absorvendo o cheiro a podridão que se vai impregnando
nas suas roupas e tingindo a pele arrepiada num tom sujo, velho, esquecido.
Imaginava todas as pessoas que se tinham escondido ali e deixado cair todas as
memórias nas lágrimas que iam pintando a madeira, húmida, debaixo do seu corpo
pesado. Cada lágrima que caia era um estrondo que abalava o corpo e remexia-lhe
o cérebro em dores profundas e cortantes. E o coração batia passivo por algo
que o fizesse deixar de bater e deixasse descansar o corpo atormentado pelos
fantasmas de uma vida que nunca chegou a viver. Corpos esvoaçantes, vazios, que
lhe iam consumindo o resto de sanidade que lhe restava em alucinações febris. O
seu corpo transpirava num suor frio que lhe ia arrepiando a pele enegrecida. E
os quadros velhos olhavam para ela como se nela vissem a sua própria vida e
vertiam a poeira num fluído viscoso que ia escorrendo pela parede e marcando a
parede em linhas retas. E as grades começaram a tomar forma, cada linha, cada
traço, cada tom daquela tinta maldita iam prendendo a vida naquela sala escura.
Em pé se colocou e correu para a porta, que se fechava iminentemente à sua
frente trancando a liberdade ameaçada lá fora. Não!, gritava ela em sons agudos e aterrorizados. Não! Não! Não!
A brisa soprada da noite
arrefecia-lhe o corpo quente e transpirado. Os seus olhos abriram, o peito
dilatou e o corpo saltou da sua posição num movimento rápido e ela estava agora
sentada. O ar fresco beijava-lhe a pele em suaves carícias e os pulmões
enchiam-se, puros, e o coração acalmava. Os olhos agora despertos choravam,
compulsivos, todas as lágrimas que nunca tivera coragem de chorar, por medo da
solidão que lhe construíra o mundo em que se deitava e dormia. E os lençóis que
a envolviam absorviam o desespero que iam escorrendo pelo seu rosto. Que
saudades de tudo, de tudo onde tinha vivido, onde tinha aprendido a viver!
Tornou a deitar-se e voltou-se para a janela aberta. As cortinas brancas
esvoaçavam envoltas na brisa, e embalava-a de novo na frescura da noite. E a
fotografia olhava-a ao longe, saudosa, quente, tentadora. Ela na coberta pela
noite escura e a foto, toda ela luz. Se o paraíso fosse lá, que tudo acabasse e
o seu corpo libertasse a alma ansiosa por voar! Que as lágrimas lhe corroessem
a cara, que a dor lhe quebrasse os ossos, que o vazio a seca-se, mas que tudo
para aquele pedaço de vida acabasse e ela entrasse na fotografia, que abraça-se
o corpo que a saúda sorridente, que dormisse nos seus braços, que fosse feliz,
mas que não vivesse. Que a sua a vida fosse a morte menos dolorosa que a
realidade. Que terminar em nada fosse aquele grande tudo.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
Quero uma ilha
Quero uma ilha. Uma ilha longe,
circundada pelo mar transparente, refletindo o céu azul, todo ele pintado de
azul, sem que uma única sombreasse a paisagem. Queria o sol a transbordar sobre
mim, a alma pacífica, com apenas a luz para pensar. Queria o verde pintado o
tapete de vida que se estende pela minha imagem. Quero a sombra de uma
palmeira, multiplicada em avenidas de sombra e a frescura pacífica da solidão
do dia de sol. Quero a areia a enterrar os pés e sentir o calor que emanam a
entrar pelo corpo dentro e a aquecerem-no, a aquecerem o branco de neve que
ainda me cobre no inverno do meu corpo. Tenho frio, quero sol. As lágrimas da
chuva estrondosa ainda caem sobre o meu rosto. A roupa escura ainda me tinge o
pensamento de uma escuridão moribunda. O coração bate e o corpo parece explodir
num motim de sensações que me querem consumir. Quero uma ilha. Quero uma ilha
em que não me lembre do que fui, do que tenho, do que vi, do que amei. Quero
paz, quero a solidão saudável de quem quer sentir a sua presença, só. Quero os
pássaros a cantarem para mim como uma melodia fundamental da natureza, como
parte dela. Quero um mundo meu. Só meu. Quero sair do inverno. Quero a luz que
faça derreter o frio que me esculpiu, quero a água derretida do meu corpo em
flor, naquela ilha. Quero a leveza esvoaçante deixando o meu pensamento pesado
flutuar na água daquele mar límpido que me rodeia. Quero a vida em elemento,
quero um sopro das palavras que me fazem sorrir, quero uma melodia que me encha
o coração daquela cor com que me pintas. Quero o mundo isolado no teu sorriso,
no teu mundo, na tua ilha.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Consultório Sentimental (gratuito): Das 18h às 22h30
Depois de temporais, Pepas a
quererem malas girérrimas, daquelas
pretas, clássicas… da Chanel, e outros fenómenos dignos de 1560578 notícias, imagens
e afins, volto aos posts. Foi um fim
de semana digno de um reality show da TVI sobre sobrevivência em
ambientes hostis, como é o caso da nossa casa sem água, luz e rede, e televisão
e Internet e tudo isso que torna o mundo normal. Verdade seja dita, falta-nos
parte do essencial e ficamos paranoicos a pensar que é desta que o mundo acaba.
Mas o que se deve louvar não é primeiramente a rapidez dos técnicos da EDP, mas
sim o facto de não ter havido feridos com tantas árvores a cair, árvores
centenárias, grandes, monstruosas, que em minutos cederam aos 140 km/h de vento
que as fez cair pela raiz. Impressionante.
Entretanto eu, esperançosa que
algo mudasse com o temporal nas grandes redes sociais, fui criando a ilusão de
que, por alguns dias, deixaria de ver no Twitter
as lamentações de adolescentes irritadas para com a paixão. Exclamam e
interrogam, em frases sentidas, porque ele não lhes fala, porque só se lembra
delas de mês a mês, e que estão muito mal, desesperadas. Sim, minha gente, o Twitter passou ao muro das lamentações
de teenagers em fúria, todas elas em fúria, preocupadas com o SWAG e que YOLO,
e que sigam à risca as linhas da moda, para que, no próximo mês, o rapaz note
que elas afinal e finalmente mudaram de Vans, e que lhes diga de novo que são
lindas e maravilhosas. Sempre são dias menos deprimentes.
Enquanto o Twitter não abre o consultório sentimental desta quarta feira,
apresento-vos, caso não conheçam, The
Grates. Já que tenho tempo…
Estes amorosos são formam uma
banda australiana, em ação desde 2002. Já lançaram 3 álbuns e é no terceiro, Secret Rituals, que se pode encontrar “Turn Me On”, a música que vos deixo. É de salientar o fantástico vídeo clip que acompanha a música.
Agora, se não se importam vou ver
qual o preço da mala giríssima daquelas clássicas da Chanel que quero comprar
com o meu dinheiro. Vai ser uma conquista pessoal do caraças, tipo alívio!
And God blesses you all!
And God blesses you all!
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
O verão do meu céu
Se todas as melodias fossem como
esse sorriso, toda a música seria um toque de um corpo de notas em êxtase. E o
céu envolto na neblina, abriria os olhos sorriria também para ti, num divino
cumprimento pintado em luz esplendente do dia em flor. E eu, cá em baixo, nada
mais posso fazer que ouvir o quadro dessa melodia que me vai aquecendo o corpo
coberto de tanta neve. E choro ao mesmo tempo que as lágrimas da chuva vão
caindo sobre mim. Choro por querer tocar nessa luz que me ilumina cá em baixo.
Olho em meu redor e vejo o campo em primavera, como um arco-íris que vai
tapetando todo o horizonte, e lá nesse azul celestial vais sorrindo convidando-me
a subir. Levanto o braço, estico o meu corpo em pontas dos pés, mas tudo foge.
Apenas o vento me abraça o corpo saudoso. E olho o céu de novo e lá estás tu,
envolto no verão do teu corpo. E corro, corro em direção ao sol, em direção a
uma esperança que me veja e aconchegue numa viagem até ti, mas tudo me faz
tropeçar e cair em abismos que me abraçam a queda com o rio fluente que me vai
levando para onde a corrente me quer. E sorris lá ao longe, cada vez mais
longe, cada vez mais distante e o frio enrijece os ossos numa gélida tristeza
que vai consumindo a cor do sol, a minha cor. E a primavera desvanece para um
inverno sem cor, sem som, céu ou sol. Tudo é uma paisagem pintada por preto e
branco. E o rio vai correndo mais devagar, mais frio, e os olhos vão fechando
até tudo se consumir pelo vazio de um olhar que dorme mas não sonha. Sinto-me
ora pesada, ora numa leveza que me faz cair como uma folha de papel que dança
abraçada à brisa selvagem até cair nos braços do chão reconfortante. O frio
parece derreter para um calor que vai molhando o corpo e uma luz atravessa os
olhos e ilumina o coração fazendo-me abrir os olhos em flor, e lá estás tu, tão
perto, tão quente, e a melodia é trazida pelo vento que faz esvoaçar o teu
cabelo, e eu olho o céu e tudo é luz nos teus braços. E levanto-me,
segurando-me à tua mão, e olho em redor. O mar canta esparzindo o seu aroma
pelo ar, o sol beija a sua testa enquanto o céu se vai vestindo de laranja
explosivo. Olho para ti. Ouves o ambiente e fechas os olhos inclinando a cabeça
para trás para que a maresia te envolva. A tua mão continua na minha, e tudo
parece, por fim, ter sentido.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
We built this city on Rock N' Roll!
Oh maravilha de música que nos
liberta destas indisposições que temos um dia por semana. Em vez de partir
pratos, amaldiçoar uma besta ou duas, espetar agulhas em bonecas de vudu,
desaparecer, ou até mesmo beber Coca-Cola fingindo que ela tem um poder alcoólico
qualquer, estou numa de ouvir Rock e hits
dos anos 70 e abanar a cabeça, ou o capacete, como preferirem.
Nada de escrever textos
sentimentais com os sentimentos descritos como se pintássemos uma folha. Nada
disso. Hoje é mexer o corpo ao sabor do ritmo e agradecer a pessoas abençoadas
por qualquer coisa divinal por terem criado os AC/DC, os Led Zeppelin, os Guns
N’ Roses, e por aí adiante. Está a ser uma terapia bem melhor que o psicólogo e
bem mais barata e livre de impostos de qualquer coisa. Hoje em dia já nem sei
se posso dizer se alguma coisa está livre de uma taxa de roubo, por parte do
governo. Qualquer dia teremos de pagar imposto por calcar cada pedra da
calçada… Não se admirem.
Agora se não se importam, vou
encher o copo com Coca-Cola.
And God blesses you all!
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