segunda-feira, 27 de maio de 2013

Old memories in a cold box

O silêncio mata a vida
e a vida quebra a voz.
Eu não tenho mais vida
que chegue àquela foz.

As forças caem,
o chão abre e consome
toda a luz que pinta.
O que resta é fome
De algo que ficou lá na vinda.

Tomara que Deus descesse à Terra
e com ele trouxesse
Aquilo que lá ficou antes de eu nascer.
Hoje sou o deveria ser
Mas não tenho o que deveria ter.

As almas que gritam em mim
são demónios com asas e uma auréola a brilhar,
mas ao invés de cantarem,
rasgam-me o corpo em dores que me quebram ao findar,

A cura talvez a encontre
num corpo fora de mim,
pois tudo o que me resta
é um suspiro
e a morte
o fim.

Inês.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sinfonia em Sol menor

Escrever é como criar música. Precisamos de som, melodia, movimento. Começa-se pelos acordes simples da inspiração e o coração trata de ornamentar com o sonho a melodia que ecoa cá dentro. Escrever é como voar. Voa-se para longe, para perto, para o impossível, para a vida daquilo que queríamos sentir. Voa-se para dentro do coração, voa-se para as lágrimas que caem sob o rosto de alguém, voa-se para perto de quem queríamos sentir, voa-se para quem não podemos sentir. Voa-se para tudo menos para nós próprios. Cria-se sempre um outro alguém que sente como nós, pensa como nós, age como nós, mas nunca chega ser quem somos. Ai se todos pudessem criar o voo triunfal da escrita, colocar no papel aquilo que a voz consegue explicar, colocar tudo, a nu, a frio, na cruel cor da verdade. Ai se todos ouvissem a sinfonia que crio, que pinto e repinto, esculpo e volto a esculpir no meu pedaço de mundo, nesta folha branca. Escrever é gritar a plenos pulmões sem nunca se ouvir. É viver em todo o sítio e ao mesmo tempo em sítio algum. Não sinto mais que vocês. Não sofro mais que vocês. Não tenho nada de me distinga. Tenho é esta sede insaciável em querer dizer aquilo para que o corpo não chega, aquilo que o pensamento não deixa transpor dos meus muros. Escrever é ser só com todos os que criamos. Eu e os meus fragmentos, pintados para me acompanhar. Mais vale ser sozinha com eles do que se estar só e não se ouvir vida cá dentro.




Inês.   



terça-feira, 21 de maio de 2013

Wish you were here


Quero as fotos daquele sítio, quero as memórias do cheiro, a melodia do vento, o sorriso nas faces deles, o calor do abraço marcado no papel. Quero a memória da felicidade que tínhamos, o choro da saudade pregada no coração. Que saudade de vós, meu sorriso, minha respiração, meu choro de presença vazia. Que saudades de não ter o peso dos olhos, o peso nas palavras, o peso da nostalgia de todos esses momentos. Como vos amo! E a saudade que por vos trago faz-me amar-vos ainda mais. Que saudade esta.



The old gold days of music






domingo, 12 de maio de 2013

Ser ao contrário.


E se eu não for mais nós? Se não for mais a mão que seguras quando olhas para mim com esses olhos que me atravessam por completo? Se não for mais o sorriso que queres e pedes para ver, se não for a sombra que te tapa o sol no verão? Se não for mais a almofada dessa cama remexida? Se não for o lençol quando está frio? Se não o toque para acordar, a voz para sonhar, o beijo para amar? Se não for mais a distância que nos encurta o horizonte mas estende o coração até ao outro lado do mundo? Se não for mais o batom nos teus lábios que tiras sem hesitar? Se não for mais o suor partilhado na entrega? Se não for mais o brilho do colar que me deste para mostrar o decote? Se não for mais a dança que dançamos sempre juntos, cabeça no teu ombro, bater ao ritmo da batida que vai movendo os corpos? Se não for mais o vestido que me cobre no baile? Se não for mais o teu sapato de Cinderela, perdido no meio dessa tua escadaria? Se não for mais a letra do teu nome, a cor dos olhos, o rosado dos teus lábios? Se não for mais o nosso olhar? Se não for mais a tua lágrima quando da saudade te vais lembrando? Se não for o seguimento do teu rasto na areia da praia? Se não for mais o céu para onde olhas e vês a Lua, tão branca, tão longe? Se não for a tua noite, o teu dia, o teu nascer do sol, o teu crepúsculo dourado a iluminar a janela? Se não for o rubor da tua cara? A vergonha do gesto, a timidez da máscara? E se não for mais eu e tu?

Seria ser sem ser alguém.