domingo, 8 de dezembro de 2013

Nada.

Está frio. 
Jazo sozinha num canto. Nua, gelada, branca. A cor foi-se perdendo, assim como a voz. Não tenho forças. Estou presa a algo que não consigo tocar, já veio comigo. Vivo com o frio que me constitui e a fogueira que aquece os outros. Nunca foi capaz de me aconchegar tal fogo. Sou imune a mim própria, ao bem que quero fazer aos outros e assim aqui fico. 
O sol não brilha, a noite não fica, as nuvens carregadas não chovem. Apenas existem nos seus sítios, imaculadas pela função que exercem. Tomara que eu tivesse uma função como elas, ter a cor do sol, o mistério da lua, o brilho das estrelas, a leveza das nuvens, o cheiro da terra molhada. Assim seria vida. 
As pessoas passam e poucas são aquelas que param e me olham como sou. Baixam-se e observam, mas nenhuma se chega. Sou o inverno, o outono, as folhas a cair, a neve a gelar. Sou fruto tardio. Alguém compreende o vento das minhas colinas? As flores secas que nunca chegaram a renascer? Algo queimou a minha primavera e com tudo isso desvaneceu o meu verão. Que saudade. 


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