quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Hoje não somos pessoas.

Hoje não somos pessoas.
Somos feitos de olhares, pensamentos, comentários, risos, grupos, ideais, modas. 
Somos feitos de roupas, de calçado, de acessórios, de cortes de cabeço, de maquilhagem, de cor da pele. 
Somos feitos de sorrisos, de gargalhadas, de abraços, de toques. 
Não somos feitos de carne, nem de ossos, nem de sentimentos. 
Somos feitos de ações. 
Hoje não somos pessoas. 
Somos bonecos de plástico valorizados pelo peso do plástico que envergamos. Não interessa se somos bons, se somos maus, se amamos ou se odiamos, se brincamos ou ficamos sozinhos, se choramos de dor ou se choramos a rir. Não interessa. Interessa a cor do vestido, o brilho do sapato, o peso da jóia, o modelo do telemóvel, o corte de cabelo, o tom do baton, a forma dos óculos, o tamanho da casa, o número de carros. Não interessa a família, os valores, a verdade que temos. Somos apenas bonecos, feitos da imagem, a viver para a imagem. 


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Inês, são horas!

A poucos dias de começar uma nova etapa, passam por mim todas as memórias dos tempos da mudança. Aqui estou, formada, crescida, desenvolvida e independente, a olhar para aquela pequena menina que entrou no Jardim de Infância com os óculos redondos. A estranheza com que enfrentei todos os novos sítios e desafios manteve-se desde o dia em que lá entrei e acompanhar-me-á ao longo dos anos. As cores, os sons, os cheiros, vão-se desvanecendo na memória, mas o sentimento perdura. Quando antes queria ansiosamente crescer, agora penso se não terei crescido demasiado depressa. O medo de perder a inocência, de perder o sorriso, o pensamento livre, vão tomando conta de mim, apesar de se ter cá dentro uma criança sempre a correr e a brincar com a vida. 
Olho para mim e para as borbulhas que foram aparecendo, o corpo que foi crescendo, os centímetros que ganhei, aquilo que conquistei e os amigos que mantive e os que, com o entendimento, fui perdendo. Os verdadeiros foram-me acompanhando, de braço dado, a passo jovial. Os outros foram parando aqui e ali e outros abraçaram. Não me interessa, não me faz falta, nem sequer me preocupa. Os verdadeiros mantém-se e tapam as lacunas que os outros deixaram. Com a idade vão diminuindo, mas o valor vai aumentando, com as devidas cicatrizes que toda a vivência nos proporciona. 
A dias de começar uma nova etapa, não escrevo com saudade do que passou. Escrevo com a curiosidade da menina que começou a aprender, há 15 anos atrás.