quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

X&Y

Quando o som solta o movimento e a alma se desprende num fio de luz pela folha inacabada do papel escuro pelo tempo, eu sou feliz. Quando os dedos dançam e as palavras se constroem em castelos no topo da montanha da minha inspiração, eu sou feliz. Quando as ideias fluem do meu pensamento que caminha montanha abaixo, ao longo das margens da minha vida, eu sou feliz. O som sublime que me aquece o corpo e abraça-me a alma vai tocando no eco do vazio da folha e as palavras nascem como nasci eu, nuas e inocentes, dispostas a pintar a realidade do muro que me vai acompanhando pelo caminho até à cadeira do meu descanso. E a energia se eleva como uma montanha russa de sentimentos que me seguram os braços e beijam as mãos para não parar, nem pousar a caneta, a minha fiel caneta, brilhante, peculiar, independente. E a nota toca a alma, e um livro se abre com bonitas imagens que uma parte de mim pinta, trancada num quarto branco, sentada numa mesa, presa, amarrada a uma cadeira velha de madeira clara e forte. Não pinta sempre ela, não. Nem a mão delicada da nota me afaga os cabelos num colo de conforto. Tomara que me deixassem no seu calor puro e me deixassem viver nas histórias que aquela parte de mim vai pintando lá no segredo do seu quarto sem porta, lá no seu bloco de finas e brancas folhas de uma seda especial. Mas o som acaba, e as palavras se extinguem como a chama da vela que vai ardendo sem parar. É hora da melodia pousar a cabeça e dormir e eu fechar os olhos e com a minha história sonhar.