terça-feira, 29 de julho de 2014

Felicidade.

Está toda a gente tão feliz.
Cobriu-me a tristeza e o negro vê a luz por mim. Que tristeza, que solidão. Sinto o som da minha respiração a vibrar nas minhas vísceras. Sinto os movimentos que elas fazem dentro de mim. Sinto o bater do coração nas minhas lágrimas. Já não sei como sorrir. Sei mostrar a minha dentição, o melhor que posso, mas sorrir já não o faço. Desvaneci sobre mim própria, abracei o corpo enlameado da solidão, e ela a si me colou. Pensei que encontrava conforto nela, quando na verdade só encontrei tormento. Assim me vou degradando preciosamente sobre o meu regaço, enquanto a roupa molhada me esfria os ossos. Estou só, dentro do coração da solidão que me tem como sua querida e não me deixa sair. Deixa-me sair! Mas ela aperta-me mais. Ninguém me vem salvar dos seus braços, não vou saber como sair. Então choro. Choro ainda mais, mais forte, mais tóxico, mais radioativo, e assim me consumo no resto que me falta. E assim me vou pela corrente do meu sangue, pelo suspiro do meu peito, pelo bater da mão na porta. Não é desta que ela se abre, não será hoje.

Está toda a gente tão contente. E, exausta, acabo por dormir no seu regaço. 


Inês L.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Querer

Queria saber que palavras dizer. Queria ser como tu, andar como tu, sorrir como tu, respirar como tu. A tua miséria seria a minha sorte e os teus infortúnios a minha força. Queria cair como tu cais e ter todos os braços que te apanham na descida. Queria o teu sol, a tua chuva, o teu amor. Queria ser outra pessoa e continuar a ser eu. Que sou eu afinal?

Queria desaparecer e saber que comigo traria tudo o que amo. Queria ser diferente e ainda assim não mudar. Queria paz com a guerra que flui dentro de mim. Queria um mundo novo sem que para isso mudasse o que vivo. Queria tudo o que tenho e ainda assim não o ter. Queria mudar a minha sorte e ter o meu azar. Queria tanto não ser eu, não magoar quem magoo, não desiludir que desiludo, não falhar em quem falho. Queria fazer o meu mundo melhor sem que nada tivesse de mudar. Queria desbloquear quem bloqueei. Quero ser eu, outra vez. 



segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Here's to 2014!


Bright and glossy | via Tumblr

Muito tempo passou desde o meu último post de opinião. Não que os meus textos não passem de meras opiniões, mas algo direto já faltava às bolinhas do meu blog. Depois de um ano de 2013 tão próspero, como toda a gente me desejou a 31 de dezembro de 2012, faço agora um balanço de todo este ano que tão longo foi, mas que entrou a 100 e está a prestes a sair a duzentos. 

2014 you don't scare me...

Recordo a minha maioridade, que em nada alterou a minha vida, a não ser nas rugas e na responsabilidade cívica de cumprir as normas instituídas (senão cadeia) e o dever democrático de votar. Apesar de serem alterações na minha vida enquanto indivíduo, em nada o meu inútil novo poder de liberdade fez mudar o nosso país para algo "menos pior". É a vida, melhores dias virão. 
Recordo o meu último ano no secundário. Vejo-o lá longe dentro de uma caixa de madeira que até pó deixou crescer. Bons tempos, em que o trabalho atroz que se julgava ter não passava de uma micro amostra do que iria ser a monstruosa Universidade. 
Fizeram-se os exames e o resultado saiu: colocada na Escola Superior de Tecnologias e Saúde de Coimbra, em Fisioterapia, 1ª opção. Um grito no quarto, alguns saltos pela casa e a festa fez-se. Era oficialmente CALOIRA! Marcou definitivamente a minha vida, principalmente os meus joelhos e mãos de tanto de quatro estar. Mas caloiro é burro, caloiro não toca no preto, caloiro não olha os doutores nos olhos, por isso, DURA PRAXIS SED PRAXIS




Coimbra dos amores, dos doutores. Coimbra para a vida. Coimbra dos amigos, Coimbra do negro que me irá vestir. Coimbra dos encantos. 
Levarei comigo sempre esta cidade e tudo o que ela me deu e continuará a dar. Agradeço os amigos e amigas que estou a fazer e espero que muitos deles me levem com eles para a vida, porque eu os levarei comigo. São fases e assim como muitos vão, poucos nos aparecem mas ficam, e no fim temos a colagem que penduramos na parede dos nossos quartos.
Coimbra by Night by ~pauloalexandre on deviantART

2013 foi um bom ano. Muito me trouxe, pouco me tirou. Quem sabe se 2014 não será melhor? Mas se não for, aqui estarei eu para o fazer memorável, porque a vida, ou destino (se é isso que lhe querem chamar), é uma caneta na nossa mão e somos nós que decidimos o que traçar nesta folha branca que nos acompanha. 
haha love him:D:D
Que seja um bom ano. Nem melhor, nem pior. Que seja apenas bom e diferente. 

Inês L.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Dark

Uma lágrima que caiu. Um muro que ruiu. A pele húmida a brilhar, negra se tornou. O olhar escureceu. As crenças desvaneceram. O sentimento estagnou. 
O ser encerrou-se na exatidão de nada ser. Acreditar deixou de ser palavra, era um sonho. O que há depois? A certeza da saudade, da solidão, do nada. 
A sua vida era um quarto sem porta com uma fotografia caída no chão. Uma memória. Uma ideia. Um beijo tardio, antigo, sem cor, sem sabor, sem face. A tristeza era o céu e as lágrimas o seu chão. Não havia mais nada dentro das suas quatro paredes. Triste destino, triste ser. Condenada a uma solidão partilhada com a solidão de outro ser. Todo o seu ser era a saudade da companhia, a saudade do toque, do olhar, do riso, do silêncio comum. 
O tempo passa assim sobre o seu corpo consumido e deixa a marca outra vez, a cada dia que passa. Já nada faz sentido. Já nada tem o seu sentido. Já nada corre sobre o seu rio. O nada em tudo se fez e com o tudo que tem em nada se tornou.    


domingo, 8 de dezembro de 2013

Nada.

Está frio. 
Jazo sozinha num canto. Nua, gelada, branca. A cor foi-se perdendo, assim como a voz. Não tenho forças. Estou presa a algo que não consigo tocar, já veio comigo. Vivo com o frio que me constitui e a fogueira que aquece os outros. Nunca foi capaz de me aconchegar tal fogo. Sou imune a mim própria, ao bem que quero fazer aos outros e assim aqui fico. 
O sol não brilha, a noite não fica, as nuvens carregadas não chovem. Apenas existem nos seus sítios, imaculadas pela função que exercem. Tomara que eu tivesse uma função como elas, ter a cor do sol, o mistério da lua, o brilho das estrelas, a leveza das nuvens, o cheiro da terra molhada. Assim seria vida. 
As pessoas passam e poucas são aquelas que param e me olham como sou. Baixam-se e observam, mas nenhuma se chega. Sou o inverno, o outono, as folhas a cair, a neve a gelar. Sou fruto tardio. Alguém compreende o vento das minhas colinas? As flores secas que nunca chegaram a renascer? Algo queimou a minha primavera e com tudo isso desvaneceu o meu verão. Que saudade.